quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Considerações sobre o amor verdadeiro II (ou Pv.30:18-20)

Os pássaros voam. E o que se sabe
Sobre seus caminhos passados?

A respeito dos vários vôos traçados

Ao longo da atmosfera terrestre,
O que se fica lembrado? Qual é o rastro?
O que esses caminhos dizem
Sobre os caminhos futuros?
Nada. Só se sabe que estes passaram
Por serem vistos passar na exata hora.

A cobra se move por sobre as rochas,
E o que se sabe dos seus caminhos?

A respeito do seu serpenteado,
Por várias vezes passado pelas penhas,
O que nos deixa noticiado?

Seus caminhos, o que dizem sobre
Os caminhos passados e os que virão?

Não dizem nada. Só se vê a cobra
E seu movimento no seu real
Momento de se movimentar.


E sobre o caminho dos barcos a vela
O que se sabe de por onde passaram?
A respeito das rotas mil que já
Cortaram a superfície marinha,
O que se observa no mar, registrado?
Quais evidências deixam no mar
Dos seus futuros caminhos,
Da continuidade de suas rotas?
Nenhuma. Só se sabe que se passam
No momento ínfimo de sua passagem.

E os homens se relacionam. E o que se sabe

Dos caminhos de um homem com uma mulher?
A respeito das centenas de beijos trocados,
O que dizem realmente sobre o amor,
Sobre o que se passou e sobre o porvir,
Para além do seu exato momento de consumação?

O que se passa é somente o que se passa
E os atos só dizem sobre os próprios atos
E não dizem nem sobre o próprio passado.
Ao que ama, só se sabe ao certo
A sinceridade de si próprio.
Todo resto é pura especulação.
Ao amor basta o ínfimo momento
De sua expressão.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Considerações sobre o amor verdadeiro.

Há quem diga que enxerga-se o amor
De primeira vista, visto que, amor seria
Dádiva divina, essência extraída dos
Primeiros olhares, de inconscientes percepções.
Assim, entender-se-ia o amor de súbito,

Por completo, instantaneamente inteiro.

Perceber-se-ia intrinsecamente o outro
Sem necessidade de maiores pormenores.

Embora desejasse crer em toda essa teoria
Sobre a percepção do outro e sobre a naturalidade
De entender-se repentinamente como parte
De outra metade, como que em desígnio divino,
Reconhecer íntimo em segundo ínfimo,

O amor não é lúcido, nem tampouco previsível.

Ao contrário, por ser amor,
O amor verdadeiro é desconcerto,
É constante insegurança e dúvida mútua.
(O que queres é o alçar vôo,
Ou desejas um singelo pouso?)

Não é medido e nem reconhecido de princípio

Justamente por se tratar de amor, é desconforto.

É fagulha de ceticismo, centelha
A respeito de todo o blábláblá divino.
É a certeza da incerteza.

Também enxergo-o e tateio-o,
Porém, com a clareza de quem vê o sol de olhos cerrados
Como quem só dá por entendida a brisa
Quando esta lhe acaricia os poros.

Conseqüentemente, embora fosse meu desejo,
Não encontro meio de partilhar de tamanha solidez.
Sou incrédulo de todo aparato teórico-divino,
Curiosamente, justo por ter amado.