Os pássaros voam. E o que se sabe
Sobre seus caminhos passados?
A respeito dos vários vôos traçados
Ao longo da atmosfera terrestre,
O que se fica lembrado? Qual é o rastro?
O que esses caminhos dizem
Sobre os caminhos futuros?
Nada. Só se sabe que estes passaram
Por serem vistos passar na exata hora.
A cobra se move por sobre as rochas,
E o que se sabe dos seus caminhos?
A respeito do seu serpenteado,
Por várias vezes passado pelas penhas,
O que nos deixa noticiado?
Seus caminhos, o que dizem sobre
Os caminhos passados e os que virão?
Não dizem nada. Só se vê a cobra
E seu movimento no seu real
Momento de se movimentar.
E sobre o caminho dos barcos a vela
O que se sabe de por onde passaram?
A respeito das rotas mil que já
Cortaram a superfície marinha,
O que se observa no mar, registrado?
Quais evidências deixam no mar
Dos seus futuros caminhos,
Da continuidade de suas rotas?
Nenhuma. Só se sabe que se passam
No momento ínfimo de sua passagem.
E os homens se relacionam. E o que se sabe
Dos caminhos de um homem com uma mulher?
A respeito das centenas de beijos trocados,
O que dizem realmente sobre o amor,
Sobre o que se passou e sobre o porvir,
Para além do seu exato momento de consumação?
O que se passa é somente o que se passa
E os atos só dizem sobre os próprios atos
E não dizem nem sobre o próprio passado.
Ao que ama, só se sabe ao certo
A sinceridade de si próprio.
Todo resto é pura especulação.
Ao amor basta o ínfimo momento
De sua expressão.