segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Leve!

Vento

Que leva vela,
Leve essa leva
De tormento.

Tempo,

Levante e revele.
Vele o mais leve
Ferimento.

Levem tudo consigo!
Leves ou relevantes.
Toda dor é fragmento
E leveda todo o resto
Dos intentos.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Janela.

Todo poema é belo.
Quer poesia maior
Do que o desabrochar
De um primeiro verso?

sábado, 7 de novembro de 2009

Centrífuga.

Em um dado momento da minha vida,
Lucidou-se em mim um certo costume:
O de andar por vielas onde já não se há,
Ao certo, um certo costume de se andar.
Passeio distante dos passeios urbanos,
Percolo-me por entre as frestas citadinas
Procurando pelas brechas da sociedade,
Os bancos vazios, os botecos escondidos,
Os coletivos que não fazem juz ao nome
E é assim o meu repouso, o meu alívio.


Tão lúcido como esse certo costume,
É certo, para mim, a sua razão de ser.
Por certa razão, me entendo melhor.
Escuto os diálogos da minha mente
Entre os meus eus e as suas correntes
Escruto-me intrinsecamente
E descubro que uma coisa é certa:
Só sou eu quando eu sou só,
E vice-versa.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Cogito, ergo non sum.

Hoje já tenho minhas respostas.
As de que nunca serei respondido.

Se tudo é para que seja
E assim se faz por si só,
Que há de mais metafísico que isso?
Pra que procurar além-sentido
Se todos os meus sentidos
Já me respondem o que deve ser
Respondido?

Hoje já sei dar ouvido
Quando me dizem
Que não me dirão mais nada.

E leve, leve, muito leve,
O vento que soprou
Por outros ouvidos
É o mesmo que chega aos meus.
E já nem penso nisso
E nem procuro pensar
Porque nos tempos que pensava,
Este passava, atravessava
Leve, leve, muito leve,
Pra soprar por outros ouvidos.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Soneto

Queria mesmo era fazer
Uns poemas de amor
Sem aquele clichê
De rimar sempre com dor

Em versos debulhar
Só os botões de flor
Sem aquilo do tratar
De amargura anterior

Portanto, mudarei de verdade
Não tratarei mais de agonia
Desde aqui até a posteridade

Serei poeta de avançada idade
Rimando alegria com luz do dia
Por pura ingenuidade.

domingo, 2 de agosto de 2009

(Ant)agonias.

Corre desenfreadamente corrida
Para desacelerar o tempo
Prende-te a ideais de liberdade,
Libertam-se aqueles que se prendem a devoção

Silêncio aos berros nos ouvidos
Espremido a uma folga qualquer
Enche-se de habitual vazio
Não enxerga sentido sequer

E tudo passa a ser só isso,
Só, Rodeado de mundo inteiro
E o sempre presente, o dia omisso,
Só Aquilo, prato e travesseiro

Vida escorre pelas bifurcações,
Pelas ruas, pelas horas.
E destino cadê?
Nem sabes em que mar vai dar.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Lucidez.

Sim, sou seu sem saber ser.
Sei lá, vai saber só sei ser só.
Pó. E se dei nó, sabe-se lá.
Quem saberá? Vai ver sempre soube:
Situação será assim
Só até o derradeiro sopro.

terça-feira, 31 de março de 2009

Algo sobre os versos

A forma dos versos nunca me foi preocupação.
Se hoje o que sinto não cabe nos versos, de maneira tal que o desejo de/
[expandir-me se prolonga em um único verso, isso o faço.
E até repito a palavra "verso" quantas vezes me vier,
Não procuro os termos certos,
Eles que sigam o vem-e-vai dos meus pensamentos.
E se me der, amanhã já enxugo a falácia dos sentimentos.
Friamente, restrinjo.
Finjo o "não há mais nada a dizer"
Reprimo-me entre o curto espaço
Do pensamento bruto e da mão que o molda.
Sou curto.
Breve.
É que o pensamento nunca me veio emoldurado,
Talhado em duas estrofes ou três,
Minhas convicções nunca vieram costuradas em sonetos
Ou se ataram a outra forma qualquer,
As palavras, dou a liberdade disforme de ser o que são.

sexta-feira, 27 de março de 2009

Um breve pensamento

E a vida é um escorrer entre dedos
Óleo denso. Se esvai, lento
E desce entre os vãos perenes,
Que com peculiar relutância,
Hesitam em reter sua fluidez
E assim o faz, com exímia ausência de êxito.

quinta-feira, 19 de março de 2009

Porre

E vê o tempo coar seus dias
E sem solicitar, lhes adicionar
Duas pedras de gelo
Que é pra descer seco
O empurrar de doses de monotonia.

Engole os pensamentos,
Suam-se as gotas de alegria,
Amarga goles de saudade
Engole os pensamentos,
Dissolve-se a doçura do dia-a-dia
Deglutina acidez de ansiedade
Engole os pensamentos,
Embriaga-se em seus tormentos,
Esvai-se em insanidade
De agonia, se satura a solução.
Insipidez de sentimentos
Engole os pensamentos
E Empapuça-se de solidão.

Sobre cores, cais e não-amor.

Ainda não entendo os eruditos
Sobre suas declamações de amor.
Pincelam em seus versos
Os tons mais bonitos
De Azul, Lilás, Marfim e Toda cor.

Mas do que se faz o amor
Se não do Branco da incerteza?
Ou do Negro, em toda sua falta de clareza?
Mistura de tons pastéis e xadrez
Que embrulha e nauseia o pensamento.

Ainda não entendo os eruditos
Sobre suas declamações de amor.
À mulher amada discorre-se bordões
"És porto-seguro, és meu cais"
E a cada frase se engole uma dose demaseada de paz.

Mas do que se faz o amor se não
Da insegurança dos mares bravios?
Ou da inconstância das marés e dos seus desvios?
Mistura de tonteira e embriaguez
Que embrulha e nauseia o pensamento.

terça-feira, 17 de março de 2009

Em Contrapartida.

E no fim das contas, que diferença faz
Se a história é com "H" ou sem?
Se esta, tem leitor ou nem?
Se quem a escreve o faz mal ou bem?

Desta forma, quem vos escreve o faz sem rigorosidade contratual,
Sem prazo de tempo, e que, de qualquer contratempo
Faz-se um contraponto para a falta de responsabilidade com a escrita.

Assim, se escreve, se transcreve, se contradiz
Borbulham controvérsias contra os versos descritos
Se se diz "-farsa", Se desfaz, se disfarça.
Em meio a contrastes de pensamentos,
Goles de "café" com ou sem acento,
O intuito é contribuir.